ELEIÇÕES MUNICIPAIS - 2008

Os resultados eleitorais em Ijuí

Por Sergio Pires
Ms. em Direito

Há muitas maneiras de se analisar a realidade geopolítica ou, melhor, geoeleitoral do município de Ijuí. Por convenção própria, tenho analisado os resultados das últimas eleições dividindo o município em quatro regiões: a zona central, os bairros de maior poder aquisitivo, os bairros populares e a zona rural. Grosso modo, isso corresponde a quatro regiões que circundam a Praça da República, da menor à maior distância.

Por características que vão desde a média de idade (mais alta no centro e no interior, por exemplo), passam pela renda per capita e vão ao grau de escolaridade, as regiões caracterizam-se por um perfil próprio de voto. O centro e o interior têm um eleitorado conservador, os bairros de “classe média” têm um voto progressista e os bairros populares, um voto volúvel, indefinido. As campanhas investem seus maiores esforços justamente nos bairros populares (Alvorada, Luiz Fogliato, Lambari, por exemplo), pois é mais difícil alterar o voto sedimentado das outras regiões.

Nos últimos processos eleitorais verificam-se dois movimentos interessantes no mapa referido. A direita clássica definha eleição após eleição e o voto progressista se fortalece nos bairros populares. O populismo democrático inaugurado pelo Governo Lula foi o maior causador deste último fenômeno. Coisa atestada pelos analistas também em cidades pólos como São Paulo e Porto Alegre. O voto de esquerda migrou das regiões de classe média para a periferia.

Na eleição de 2004 este fenômeno ficou bem claro. Até porque à época tivemos um quadro ideológico bem definido na disputa. A Frente Popular pela esquerda, a chapa PMDB-PTB-PP pela direita e o PDT à centro-esquerda. Em 2008, a realidade mudou. Apenas a direita disputou a eleição com nitidez ideológica. As forças de esquerda e centro se mesclaram em duas chapas e promoveram uma acirrada disputa pela marca de autenticidade. O símbolo desta disputa foi o alinhamento ao governo Lula.

Concretamente, Ballin ganhou no interior e nos bairros populares. No centro e nos bairros de maior poder aquisitivo houve empate entre o 12 e o 65. Numa primeira leitura, se pode concluir que a chapa de direita não conseguiu sensibilizar o voto conservador. Mesmo no interior, sobre o qual havia um temor grande na Frente Popular Trabalhista, o 11 pouco apareceu.

Pode-se dizer que a disputa sobre quem representa a esquerda em Ijuí continuará vigente até o próximo pleito, em preservadas as atuais composições. Mas, a Frente Popular Trabalhista pode festejar que, se a tendência antes ventilada de migração dos votos progressistas do centro para a periferia continua válida, sua vitória nos bairros populares, inclusive no Getúlio Vargas, bastião histórico do candidato do 65, a fortalece como opção de esquerda.

Aliás, sobre essas idiossincrasias de alguns bairros, vale observar a derrota fragorosa de Ballin no São Geraldo, solo histórico do PT, a virada inesperada no Modelo e, mais uma vez, a vitória no Glória, verdadeira Meca do PDT, apesar de suas administrações investirem modestamente neste bairro. Porém, estes são assuntos para outro dia.