A máxima do título refere-se à bajulação, à adulação e à falsidade no mundo do poder. Poucas áreas da atividade humana - se é que existem mesmo - prestam-se tanto ao exercício das atitudes de subserviência e subalternidade interesseira quanto a política
A política lida com um valor que é muito cobiçado: o poder, e o séquito de atributos sociais que nele estão pendurados, como o status, o prestígio social, as oportunidades de negócio, a satisfação da vaidade pessoal, o sentido de importância pessoal, a condição de celebridade, a capacidade de fazer valer sua vontade sobre outros, para citar apenas os mais óbvios.
A política, portanto, e o poder que dentro dela e por meio dela se conquista, atrai bajuladores para os seus círculos como a luz atrai as mariposas de verão.No interior deste mundo encontram-se os poderosos, pontos focais das atenções, dos agrados, da bajulação, da busca de acesso e proximidade, tanto pela capacidade de usar seu poder para gratificar, escolher, promover, prestigiar, como para prejudicar, para perseguir, punir, excluir... Para a maioria das pessoas - em todos os tempos e lugares - a bajulação, o elogio, a adulação, é considerada - justificadamente - o caminho mais curto e seguro para chegar ao coração do poderoso.
A importância da função de governar, as responsabilidades indelegáveis, os riscos pessoais e políticos, legitimam aquela cobiçada condição hierárquica superior, e a correspondente deferência e respeito com que são tratados os governantes. A bajulação e a adulação são as caricaturas das atitudes cívicas e viris de consideração, respeito e deferência para com a autoridade. Maquiavel, encarando o problema do ângulo do governante, as define como "uma peste": "Refiro-me aos aduladores, tão abundantes nas cortes; porque tanto compraz aos homens serem elogiados, e de tal forma se enganam, que dificilmente se defendem desta peste". - O Príncipe, Cap. XXIII.
O fato é que, como diz Maquiavel, "compraz aos homens serem elogiados". Como tal, não há como ignorar que são os poderosos, as autoridades, que geram os aduladores. Fossem eles mais resistentes e indiferentes às adulações, elas não seriam praticadas com tanta freqüência. São porque, por certo, produzem os resultados desejados.
Esta é uma das grandes lições de Maquiavel: advertir o Príncipe (governante/autoridade) para os riscos de ceder à tentação de cultivar a adulação em torno de sua pessoa. Ela é um daqueles doces venenos que o governante gosta de ingerir.