O intenso processo de mudança social que se iniciou na Europa há vários séculos continua em fermentação. As atuais sociedades desenvolvidas -- última etapa, por enquanto, desse processo de mudança social -- têm características muito positivas em alguns casos: extensão generalizada da alfabetização, previdência social universal, média elevada de duração da vida, incorporação da mulher ao mercado de trabalho e a outras atividades sociais em desvantagem cada vez menor em relação ao homem, estabilidade social e econômica no caso dos países de "capitalismo avançado" e bem-estar material de amplas camadas sociais.
Entretanto, em sua complexidade, as sociedades desenvolvidas se revestem também de características que não podem deixar de ser consideradas negativas. Uma delas é que, embora englobem apenas uma parcela minoritária da humanidade, as sociedades desenvolvidas, em função precisamente das necessidades de seu desenvolvimento ou da tecnologia de que dispõem, detêm a quase exclusividade da exploração dos recursos naturais do planeta. Essa situação ocorre em detrimento daquelas sociedades que possuem tais recursos, mas carecem dos meios de se beneficiarem deles.
No final do século XX, o modelo econômico e social a que aspirava a maioria dos habitantes do planeta era, em linhas gerais, representado pelos países capitalistas mais desenvolvidos. Entretanto, as sociedades mais ricas tentam encontrar soluções para os problemas que surgiram em seu interior, como a delinqüência, a violência urbana, o uso de drogas, a marginalização de amplos setores, o racismo, o consumismo descontrolado e a falta de solidariedade social.
Embora a "mão invisível" do sistema de mercado tenha demonstrado sua eficácia para a conquista do crescimento econômico ao longo de muitas décadas, tem ainda que oferecer soluções melhores para o problema global que se apresenta com intensidade cada vez maior: a limitação das reservas dos recursos de toda ordem: matérias-primas, energia, espaço, alimentos, atmosfera, água potável etc. Outro grave problema para o qual o sistema social não soube ainda oferecer solução plenamente satisfatória é o da acelerada automação e robotização, que dispensa cada vez maiores contingentes de mão-de-obra humana. As sociedades desenvolvidas, porém, baseiam grande parte da justificação da existência humana no trabalho. Como tornar compatível a escassez do trabalho com a necessidade psicológica, social, ideológica, econômica e moral que dele sente o indivíduo é um tema no qual as sociedades modernas começam a dar os primeiros passos, encaminhando-se para um mundo no qual exista um equilíbrio entre trabalho e lazer.
As sociedades pouco desenvolvidas, nas quais o sistema produtivo é ineficiente e as estruturas sociais em grande parte ainda estão por se modernizar, sofrem também de modo peculiar os problemas próprios das sociedades ricas mas, sobretudo, enfrentam dificuldades ainda maiores advindas das desigualdades sociais que provocam grande instabilidade interna e dificultam o funcionamento democrático das instituições políticas. Muitas dessas sociedades se encontram divididas em duas partes distintas: uma minoria modernizada e uma maioria na qual predominam as atitudes e modos de vida tradicionais. Em alguns casos o panorama negativo se complementa com a fome generalizada, a incapacidade de deslanchar o processo de crescimento econômico, a superpopulação e muitos outros problemas de extrema gravidade.
O processo de modernização econômica, por ser incompleto, provoca grandes problemas sociais, como a superpopulação das cidades. Se a migração de camponeses para os grandes centros urbanos constitui sintoma revelador de modernização social, já que pressupõe que grandes contingentes da população se inserem nos circuitos econômicos modernos e se desligam de seus condicionantes ideológicos tradicionais, a incapacidade das grandes cidades de absorvê-los cria por sua vez subculturas pré-modernas, marginalização, desvinculação dos laços com o resto da sociedade e delinqüência. O controle das doenças infecciosas, desvinculado de uma mudança na ideologia tradicional favorável a uma alta taxa de natalidade ("ter muitos filhos para que pelo menos um sobreviva"), provoca uma explosão demográfica que uma economia raquítica, lenta em seu ritmo de expansão, não tem condições de absorver.
Esses e muitos outros problemas caracterizam a maior parte das sociedades pobres e o otimismo que imperava no meado do século XX a respeito de sua pronta solução não se confirmou nos anos posteriores. Apesar desse quadro negativo, algum avanço foi conquistado. No fim da década de 1980, as taxas de crescimento populacional começaram a diminuir em muitas regiões do mundo, enquanto grandes países asiáticos antes identificados com a fome, como a Índia e a China, pareciam ter superado esse problema.
No tratamento dos diversos problemas das sociedades atuais, o trabalho do sociólogo e a contribuição das teorias sociológicas adquiriram uma importância crescente. Embora não existam medidas seguras ou receitas aplicáveis a qualquer caso, os governos podem, mediante técnicas sociológicas, intervir em diferentes áreas da vida social. Essas técnicas de intervenção tiveram progresso especial nos setores da publicidade e da opinião pública, que servem para orientar e conhecer as preferências de consumo e as tendências ideológicas.
Até aqui foram abordadas algumas especificidades da sociologia, assim como uma visão do mundo atual, contemplado de um ponto de vista sociológico. Mas os fenômenos humanos que podem ser objeto de estudo da sociologia são muito numerosos e diversos.
Os fenômenos humanos e a sociologia
A sociologia é pois uma forma de abordar o mundo, que privilegia certos aspectos e despreza outros, ou seja, seleciona da realidade o objeto de seu interesse, da forma mais adequada para esta ou aquela finalidade. Encara as pessoas não do ponto de vista de sua especificidade, mas como atores de relações sociais, que desempenham certos papéis movidos por certos elementos motivadores. As relações sociais, por sua vez, podem ser entendidas de maneiras distintas, de acordo com o propósito do estudioso: seja no contexto das classes entre as quais se estabelecem, seja em âmbitos mais restritos, núcleos menores ou microcosmos que se definem dentro da realidade mais ampla da sociedade global.
Do que foi dito se deduz, assim, que um traço característico que define com maior rigor os estudos sociológicos é precisamente a grande diversidade de enfoques e contribuições que se estabelecem em seu âmbito. O principal desafio para o sociólogo é portanto a delimitação de meios de observação e gestão para compreender uma área concreta das sociedades.
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