As sociedades não são permanentes. No decorrer da história existiram formações sociais nas quais as mudanças, em muitas épocas, foram imperceptíveis. Assim, prolongados períodos da história do Egito faraônico parecem, do ponto de vista do observador atual, ter sido presididos por uma estrutura social estática, sem mudanças, invariável em suas forças e componentes institucionais internos. No entanto, mesmo as sociedades mais conservadoras e aparentemente imutáveis experimentaram sempre tensões e movimentos de mudanças em seu interior, que no final conseguiram transformar os alicerces sociais. Se essa afirmação é verdadeira em relação às sociedades da antiguidade, aplica-se com maior rigor ainda às sociedades contemporâneas, nas quais o extraordinário progresso impôs um ritmo de transformação e de surgimento e desencadeamento de novos problemas internos, gerou tensões e reforçou fatores de mudança social com uma intensidade jamais conhecida em outras etapas históricas.
Tornou-se lugar-comum afirmar que a sociedade atual está em crise. Entretanto, apesar de trivial e repetitiva, essa afirmação não é menos verdadeira. A sociedade do terceiro milênio é com certeza mais aberta às transformações, e as forças que a impulsionam a mudar são mais poderosas do que as que existiram em qualquer outro momento da história.
O progresso tecnológico influiu poderosamente sobre as mudanças sociais em nível mundial, mas suas conseqüências não têm sido as mesmas em todas as sociedades, nem os processos tiveram a mesma intensidade. Assim, o desenvolvimento econômico parece estar fortemente enraizado, de forma irreversível, nos países industrializados e mais ricos, nos quais, apesar de ocasionais crises econômicas, o avanço é quase contínuo. Muitas sociedades mais pobres do Terceiro Mundo, pelo contrário, experimentam grandes dificuldades para encontrar o caminho do progresso.
As causas que provocam um grau diferente de mudança social entre as diversas sociedades são muito complexas. Basta no entanto apenas um exemplo para mostrar o nível diferente de impacto que um aperfeiçoamento tecnológico pode ter, de acordo com o tipo de formação social sobre o qual incida. O surgimento dos antibióticos aumentou a duração e a qualidade da vida nos países industrializados; quando seu emprego se generalizou nas sociedades subdesenvolvidas, o grande número de vidas humanas que tais medicamentos salvaram originou como reação problemas adicionais às dificuldades de alimentação e emprego que as massas humanas desses países sofrem devido à explosão demográfica que contribuíram para criar. Assim, pois, a conformação de uma sociedade, seus recursos e organização interna podem originar, para as mesmas causas, efeitos de mudança social muito diferentes.
Uma sociedade ingressa numa dinâmica intensa de mudança social quando os laços tradicionais que seus componentes mantêm entre si, sejam eles representados por instituições econômicas, religiosas ou culturais, se enfraquecem a tal ponto que os indivíduos se mostram dispostos a construir novas relações, adotar outras instituições e modificar seu modo de vida e sua conduta. São perceptíveis, em todos os países modernos, as mudanças na estrutura familiar, na forma com que as crenças se materializam na prática religiosa, na estrutura ideológica dominante e, muito particularmente, na realidade econômica. Um processo muito intenso de mudanças sociais teve lugar, no final do século XX, na quase totalidade do mundo.
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